Elon Musk, Jeff Bezos, Sergey Brin, Richard Branson e tantos outros querem usar sua fortuna para transformar o impossível em realidade
O bilionário sul-africano e inventor Elon Musk estava sentado no bar de um hotel chique em Mônaco, quando o bilionário americano, inventor e super-herói Tony Stark se aproximou da mesa e o cumprimentou. “Elon, aqueles motores de foguete são fantásticos”, disse Stark. “É? Tenho uma ideia para um jato elétrico”, afirmou Musk. A cena dura alguns segundos do filme Homem de Ferro 2. Ao contracenar com um personagem de ficção, Musk apresentou ao mundo real uma eficiente mensagem de marketing.
Como o herói do filme, Musk quer ser reconhecido. Não só como empresário bem-sucedido, mas como um construtor do futuro, alguém com os recursos intelectuais e materiais para conceber o que ninguém mais vê e transformar sua visão em realidade. Fundador da fabricante de automóveis elétricos Tesla Motors, Musk faz parte de um grupo pequeno de ultrarricos com dotes visionários, inventividade e imensa habilidade para o marketing pessoal. A seu lado estão o cineasta James Cameron, Jeff Bezos (fundador da Amazon), Peter Thiel (cofundador do PayPal), Richard Branson (dono da companhia aérea Virgin) e Sergey Brin e Larry Page (criadores do Google). Todos dão contribuição inegável à sociedade simplesmente por trabalhar nas áreas em que ganham dinheiro. Em seus respectivos setores, eles abrem novas possibilidades e criam empregos. Será que conseguirão resultados reais ao gastar dinheiro noutras áreas, sem fim lucrativo imediato, como a exploração espacial?
Em agosto, Musk destacou-se entre seus pares por propor duas invenções futuristas, com aplicação prática imediata e em duas áreas distintas. A mais recente ele descreveu pelo Twitter, como um sistema para “projetar peças de foguetes apenas movendo as mãos no ar” e “imediatamente produzi-la em titânio”. Numa simpática jogada ensaiada, Jan Favreau, diretor de Homem de Ferro 2, perguntou se o sistema era como o mostrado no filme, em que Tony Stark manuseia peças virtuais no espaço a seu redor e as fabrica em seguida, no mesmo laboratório. Musk confirmou e agradeceu a boa ideia dada pelo filme. Informou que divulgará, nesta semana, um vídeo da invenção. O sistema deverá usar tecnologias já existentes, mas até agora não combinadas – interface gestual (comando de computadores pelos gestos), a impressão 3D (em que a “impressora” deposita e esculpe camadas de material até chegar à forma desejada) e realidade virtual. A fabricante de aeronaves Embraer usa as três, mas separadas. Um sistema assim beneficiaria todo tipo de manufatura, não só de foguetes.
Uma semana antes, Musk apresentara um sistema de alta velocidade de transporte terrestre de passageiros, o Hyperloop. Ele consiste em cápsulas, cada uma com 28 passageiros, viajando a mais de 1.200 quilômetros por hora dentro de um tubo suspenso sobre pilares. As cápsulas, sem rodas, deslizam sobre colchões de ar, com mínimo atrito com as paredes do tubo, impulsionadas por uma diferença de pressão do ar. Musk concebeu o sistema com painéis solares e motores elétricos. Ele vende ambos.
Ninguém considerou o sistema de transporte impossível de construir, mas ele foi criticado por muitos aspectos. Musk, segundo os críticos, subestimou o preço da construção, o custo de operação e o consumo de energia. O Hyperloop não garante a segurança nem o conforto necessários (o site humorístico The Onion afirmou que a energia do sistema viria “dos gritos dos passageiros aterrorizados” pela aceleração até quase a velocidade do som e pelas curvas dentro do tubo). Por fim, Musk ignorou, nos planos, procedimentos fundamentais e custosos numa democracia, como negociar o trajeto com os municípios envolvidos e os donos das terras no caminho.
Outros planos de bilionários criativos também têm aspectos cômicos ou esquisitos. A Virgin Galactic, empreendimento de turismo orbital criado por Richard Branson, dispõe-se a levar ao espaço cientistas e experiências – mas chama mais a atenção ao agendar lugares em seus voos futuros para celebridades como Justin Bieber, Paris Hilton e Rubens Barrichello. Outro bilionário, o alemão Peter Thiel, distribui seus investimentos e doações em projetos espalhafatosos. Um deles, a Sens, uma fundação de pesquisa contra o envelhecimento, é liderado por Aubrey de Grey – um sujeito inteligente o bastante para se tornar ph.D. pela Universidade de Cambridge, mas sem formação acadêmica em biologia e com fama de doido em círculos de pesquisadores mais conservadores.
As inconsistências levantam dúvida sobre a qualidade das inovações propostas pelos bilionários imaginativos. “Há muita gente querendo visitar o espaço, mas isso me parece diversão para ricos, não inovação”, diz a economista Mariana Mazzucato, professora de política científica e tecnológica na Universidade de Sussex, no Reino Unido. “Ao falar da falta de inovação, Peter Thiel fez uma crítica certeira: queríamos carros voadores e, em vez disso, temos 140 caracteres. Mas a solução dele é ruim – ele pede mais investimento privado e menos investimento público em inovação.” Mariana afirma que inovações verdadeiramente transformadoras, como a eletricidade e a internet, não surgiram de iniciativas individuais heroicas.
Os céticos têm bons argumentos, mas também pecam por apenas analisar os resultados, em vez de observar os meios. Os projetos originais dos bilionários talvez não cheguem a um resultado radical como o pouso na Lua, mas trazem melhorias graduais em frentes tecnológicas importantes. As iniciativas privadas reduziram continuamente o custo de colocar carga em órbita. Jeff Bezos, da Amazon, patenteou neste ano tecnologias para pouso e reaproveitamento de foguetes. O cineasta James Cameron criou novos equipamentos para mergulho e filmagem subaquática. “É ótimo que esses bilionários existam. Espero que eles queiram entrar para a história, não apenas aparecer”, diz o consultor e especialista em inovação Valter Pieracciani. Para entrar para a história, Musk e sua turma nem precisam inventar algo como a roda ou a eletricidade. Basta que eles continuem abastecendo, com projetos ambiciosos e amalucados, a imaginação de outros empresários, cientistas e estudantes mundo afora.
Fonte: Época