Remanso

Embrapa e CHESF executam projeto de desenvolvimento sustentável em Remanso

Luiz Ferreira está satisfeito com a cultura da gliricídia forrageira (Foto: Luna Layse)

A Embrapa Semiárido e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) executam um projeto de desenvolvimento sustentável da agropecuária nos cinco municípios que margeiam o lago formado pela Barragem de Sobradinho (Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento-Sé e Sobradinho).

Fundamentais na execução deste trabalho são os técnicos que atuam para aproximar agricultores e pesquisadores em atividades que buscam promover aumentos de produtividade, de renda, e melhoria da qualidade de vida.

Com o texto abaixo, iniciamos uma série de Perfis Jornalísticos sobre a rotina dos técnicos que colaboram com a execução de atividades do Projeto Lago de Sobradinho, que vai beneficiar, direta ou indiretamente, cerca de 9.400 produtores rurais.

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Inácio Gomes é técnico do Projeto Lago de Sobradinho (Foto: Luna Layse)

A dupla jornada de um ‘viajante’ no Sertão
Num dia, precisa visitar criadores de caprinos e ovinos. Em outro, a dedicação se volta para um agricultor que planta feijão e milho. E ainda tem mais dias em que a demanda por sua atenção vem daqueles que cultivam melão, melancia e cebola, irrigados. Ou ainda, tem que correr para assistir aquele outro produtor que precisa melhorar a ração das vacas leiteiras criadas em meio à vegetação nativa da Caatinga.

É muito com o que se ocupar, mas é como se desenrola o dia-a-dia de Inácio Gomes. Funcionário da Prefeitura Municipal de Sobradinho (BA), lotado na Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, ele está à frente do escritório que executa ações de transferência de tecnologias do Projeto Lago de Sobradinho.

Cansativo? Ele diz: por vezes, sim. Contudo, experimenta uma espécie de realização por estar envolvido em iniciativas que buscam melhorar a vida dos moradores do campo. O que, rememora, faltou aos seus pais no pequeno município de Itapetim, no Semiárido pernambucano e que, na seca de 1976, se viram migrantes, ao lado de muitas famílias, para o município de Sobradinho, onde tinham sido iniciadas as obras da barragem e a oferta de empregos aumentou na cidade.

Experiências

Anos mais tarde, o pai, Manoel Gomes Maurício, já trabalhando em uma das empresas públicas do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), tomava parte em iniciativas de assistência técnica junto aos agricultores do Sertão. Desta fase, lhe ocorrem mais lembranças das dificuldades enfrentadas pelos produtores das áreas de sequeiro, que fixaram nele uma espécie de solidariedade com quem vive da agricultura e da criação pecuária no Semiárido.

Por isso, Inácio quis e fez o primeiro curso superior na área da Tecnologia em Gestão de Fruticultura Irrigada, no Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE). Anos depois, casado, pai de dois filhos, o vínculo com a área rural só estreitou. Agora, ao lado dos compromissos profissionais exigidos pelo Projeto que é coordenado pela Embrapa Semiárido e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), precisa retornar à Petrolina no final do dia para se dedicar às aulas das disciplinas de mais um curso superior, a graduação em Agronomia, também no IF Sertão-PE.

Enfrenta uma rotina e tanto. Por isso, é essencial no seu cotidiano planejar os compromissos. “Não posso parar, para não acumular tarefas”, revela. Para início de conversa, precisa acordar cedo, se deslocar de Petrolina, onde mora, e chegar a Sobradinho por volta das 7h.

Cotidiano

Durante a manhã se divide entre os acompanhamentos que faz nas 38 propriedades rurais, onde estão instaladas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, fazendo a entrega de insumos, mudas e sementes. Mas, o mais importante: estar próximo dos agricultores, ensinar e aprender com eles.

Nisto, até mesmo o celular virou ferramenta de trabalho. Fazendo e atendendo as ligações nos vários momentos do dia, tem resolvido problemas de logística na distribuição de sementes e mudas, acerto na alocação de equipamentos, realização de eventos e esclarecendo dúvidas sobre o manejo de atividades agropecuárias.

Atuando junto ao projeto, Inácio Gomes está a pouco mais de um ano. Trouxe sua experiência de 22 anos de trabalho no município de Sobradinho, de conhecer os agricultores e os caminhos que conduzem às suas propriedades.

Elogio

Conhece gente como seu Luiz Ferreira, a quem chamam também de Luizinho, proprietário de um pequeno lote no perímetro irrigado Tatauí I, onde cria algumas vacas leiteiras e cultiva coco. Na área, Inácio acompanhou a implantação de um Campo de Aprendizagem Tecnológica (CAT) com gliricídia, uma forrageira de crescimento rápido que suporta a realização de cortes periódicos e possui alta capacidade de rebrota.

 Luiz Ferreira está satisfeito com a cultura da gliricídia forrageira (Foto: Luna Layse)
Luiz Ferreira está satisfeito com a cultura da gliricídia forrageira (Foto: Luna Layse)

Luizinho é só elogio para a planta. Inácio admira o interesse e a dedicação do agricultor. Luizinho destaca o empenho do técnico. Inácio enfatiza: “ele tem muito conhecimento e nos ensina também”.

Em outro sítio, Inácio descreve o proprietário, Jorge Santos: “barba branca, facão pendurado na cintura e sorriso largo”. Fácil identificá-lo em meio aos trabalhadores que colhem e embalam melão. Nos próximos meses, seu Jorge, como costuma ser chamado, concordou em avaliar junto com o técnico e pesquisadores da Embrapa, o plantio de cebola com o uso do sistema de fertirrigação por gotejamento. Trata-se de um modo de plantio diverso daquele que costuma empregar nos seus cultivos. De antemão, de maneira cortês, pontua que tem um jeito próprio de conduzir seu plantio e não cogitava trocá-lo assim, de uma hora para outra. Inácio, por sua vez, pondera que o intuito do Projeto não é que os agricultores adotem automaticamente as tecnologias. A ideia é mostrar, na prática, as inovações pesquisadas na Embrapa e promover o diálogo com a equipe técnica para que possam avaliar as vantagens e benefícios do uso nas propriedades.

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Jorge Santos vai avaliar cultivo sob sistema de gotejamento (Foto: Luna Layse)

É com a ajuda de um dos filhos, Jackson Santos, que seu Jorge contabiliza os gastos e o rendimento das primeiras colheitas do melão, que foi cultivado sob o sistema de gotejamento. O jovem explica ainda que, a técnica contribuiu para reduzir o uso da água, a contratação de mão-de-obra, o número de capinas que fazem na área e também o consumo de energia.

Jackson pretende ainda trabalhar com uso de materiais como o mulching, plástico que cobre a terra, para evitar manchar os frutos quando em contato direto com o solo. Com esta tecnologia ele afirmou ainda que não perderia tempo e dinheiro arando o solo novamente e fazendo a reinstalação dos materiais utilizados no gotejo.

Informações como estas Jackson obtém durante a troca de experiência com Inácio, seja durante os dias que ele vai ao sítio de Jorge para acompanhar os trabalhos no campo, ou em conversas por telefone, quando Inácio se mostra disponível a cada vez que Jackson ou o pai precisam de alguma orientação.

O vínculo de Inácio com a maioria das famílias dos produtores é anterior à participação no Projeto Embrapa-Chesf. Por isso que os cumprimentos, as piadas e brincadeiras são comuns entre todos. Inácio conta algumas histórias dos agricultores, descreve até os principais chavões que eles costumam utilizar. A intimidade é tanta que na hora de falar sobre as contribuições do técnico para o trabalho no campo, o filho de seu Jorge chegou até a indagar.

Texto: Luna Layse e Marcelino Ribeiro

Da redação: redecao@remansonoticias.com.br

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