Romã, pera, lichia, rambutã. Frutas típicas de clima temperado cujo cultivo está sendo testado, com sucesso, no Vale do São Francisco – fronteira semiárida da Bahia com Pernambuco – estarão expostas no estande da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) na edição 2014 da Feira Nacional de Agricultura Irrigada (Fenagri), que ocorre entre os dias 28 e 31 de maio em Petrolina (PE) e que terá as novas culturas agrícolas como tema.
Os exemplares que estarão expostos no estande da Codevasf representam os primeiros resultados da parceria firmada com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que promete diversificar a produção de frutas no Vale do rio São Francisco. Em áreas de cultivo experimental localizadas em Petrolina (PE) e em unidades de observação mantidas em diferentes pontos do Vale, a Embrapa Semiárido tem realizado pesquisas voltadas para a identificação das melhores técnicas de manejo e adaptação de culturas de maçã, pera, caqui, ameixa e romã, dentre outras, às especificidades da região. Os estudos são financiados pela Codevasf.
Pesquisas iniciadas há quatro anos já demonstraram a viabilidade técnica da produção de maçãs, peras e caquis no Vale do São Francisco. De acordo com Paulo Roberto Coelho Lopes, coordenador do projeto na Embrapa Semiárido, o cultivo de maçãs alcançou produtividade de 10, 22 e 42 toneladas por hectare – respectivamente nos anos de 2011, 2012 e 2013. Segundo dados consolidados em relatórios das pesquisas, a produção nacional de maçãs é de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas e o consumo registra constantes aumentos anuais.
“As macieiras com as quais obtivemos produção média de 40 toneladas por hectare em 2013 têm dois anos de idade. No Sul do país, plantas com essa idade produzem entre 12 e 15 toneladas por hectare no ano, em média”, compara Lopes, que atribui os bons resultados das macieiras implantadas no semiárido ao trabalho de adaptação conduzido pela Embrapa Semiárido com o apoio da Codevasf.
“Cada variedade de maçã tem um diferente requerimento de frio, ou seja: necessita de um determinado número de horas de frio no ano para produzir. No caso da variedade de menor requerimento são necessárias 400 horas de frio no ano – esse frio consiste numa temperatura igual ou menor a 7,2 graus Celsius, o que nunca ocorre na região em que estamos realizando os estudos. A razão pela qual temos conseguido produzir aqui, e com qualidade, é que fazemos um manejo diferenciado das plantas, com adaptações nas técnicas de poda e adubação, por exemplo”, explica o pesquisador.
Nas áreas de cultivo experimental os pesquisadores avaliam, entre outros aspectos da produção, a ocorrência de pragas e doenças, os tipos e as quantidades de adubo e outros produtos que devem ser aplicados em cada variedade de planta e a quantidade de água que deve ser usada nos pomares. As avaliações se estendem sobre a produtividade e a qualidade dos frutos de cada variedade, por exemplo, bem como sobre a longevidade das plantas. “O que almejamos com as análises é fazer afirmações como: este é o melhor sistema para o cultivo desta determinada fruta no semiárido. Queremos isolar e conhecer cada variável do sistema de produção”, diz Lopes.
Com as pesquisas ainda em andamento, alguns produtores já planejam realizar o plantio de maçãs com propósitos comerciais. Paralelamente às experimentações realizadas para adaptação das plantas, a Embrapa Semiárido tem empreendido análises de viabilidade econômica dos cultivos.
O produtor Andrea Pavesi cultiva uvas de mesa em áreas do perímetro irrigado Senador Nilo Coelho, em Petrolina. Há três anos ele mantém em sua propriedade uma área para cultivo de maçãs e peras monitorada pela Embrapa Semiárido. “Ao longo desses três anos a produção vem sendo aprimorada quantitativamente e qualitativamente. As maçãs já estão com um aspecto muito bom”, diz Pavesi. “Acredito que estamos em um momento divisor de águas para esse tipo de produção. Das seis variedades que testamos, selecionamos duas que acreditamos ter potencial comercial: a Eva e a Princesa. Em 2015 ou no máximo em 2016 queremos ter uma área comercial implantada”, aposta.
Produção crescente
Os 26 perímetros irrigados implantados pela Codevasf ao longo de sua história no Vale do rio São Francisco alcançaram valor bruto de produção de R$ 1,72 bilhão em 2013, com 2,96 toneladas de itens agrícolas produzidos – principalmente frutas. O perímetro Senador Nilo Coelho apresentou os maiores resultados em 2013 – foram 336,21 mil toneladas de itens agrícolas produzidos em 16,5 mil hectares. Mais de 97% da produção é constituída por frutas – uva, manga, coco, goiaba, acerola e banana.
“Com o suporte às pesquisas conduzidas pela Embrapa para a introdução de novas culturas nas áreas irrigadas do Vale do São Francisco a Codevasf busca viabilizar a diversificação de plantios na região. A diversificação é uma opção para os produtores. Ela proporciona condições mais favoráveis para que os empreendimentos de irrigação sejam sustentáveis”, afirma o chefe da Unidade de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação da Superintendência da Codevasf em Petrolina, Osnan Soares Ferreira.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor da produção de 22 espécies frutíferas selecionadas para o estudo Produção Agrícola Municipal (PAM) alcançou em 2012 R$ 21,09 bilhões de reais. Os municípios de Petrolina e Juazeiro (BA), localizados no Vale do São Francisco, encontram-se respectivamente na primeira e na segunda colocação no ranking de maiores produtores de 2012 e juntos responderam naquele ano por 4,1% da produção nacional das frutas avaliadas pelo PAM.
Peras e caquis
As áreas experimentais de cultivo de pera mantidas pela Embrapa Semiárido no perímetro irrigado Bebedouro, em Petrolina, apresentaram produção média de 60 toneladas por hectare ao ano. “Os números são muitos bons, especialmente se considerarmos que a produtividade média de peras no Brasil é de 15 toneladas por hectare ao ano”, ressalta Paulo Roberto Coelho Lopes. “O consumo anual de peras no Brasil é da ordem de 180 mil toneladas. Mais de 90% dessas frutas são importadas. A maioria tem origem na Argentina, nos Estados Unidos, no Uruguai, no Chile e em países europeus. O mercado de peras é muito favorável e podemos afirmar que o potencial de consumo chega a 300 mil toneladas por ano, desde que as frutas tenham qualidade e preços competitivos”, acrescenta.
A produção de caqui em áreas irrigadas do semiárido também tem se mostrado tecnicamente possível. Caquizeiros com três anos de idade estão produzindo dez toneladas por hectare ao ano, enquanto em outras áreas do país as plantas começam a apresentar bons resultados de produção apenas por volta do oitavo ano de vida. De acordo com Paulo Roberto Coelho Lopes, há oito hectares de caquizeiros sendo acompanhados pela Embrapa Semiárido no Vale do São Francisco. Produtores que observam o desempenho das plantas na região têm manifestado interesse em trabalhar com esse cultivo. “O caqui é produzido no Brasil desde o fim do mês de março até o mês junho. Depois disso não se encontra mais caqui cultivado localmente. Aqui no Vale estamos direcionando a produção para essa entressafra, de agosto a dezembro, de modo a permitir a máxima rentabilidade da cultura”, diz o pesquisador.
Seminário na Fenagri 2014
A edição 2014 da Feira Nacional de Agricultura Irrigada (Fenagri), que ocorre entre os dias 28 e 31 de maio em Petrolina (PE), promoverá debates sobre o desenvolvimento de novas culturas no semiárido. Integrante da programação do evento, o Seminário sobre Novas Frutíferas para o Semiárido Irrigado ocorre no dia 29 e abordará, em uma série de palestras, assuntos como monitoramento de pragas, técnicas de cultivo e perspectivas comerciais para culturas de peras, maçãs e caquis no Vale do São Francisco. Mais informações estão disponíveis neste endereço: https://fenagri2014.com.br.
Fonte/Foto: Codevasf