Na noite de sexta-feira (9), foi divulgada a lista de armamentos encontrados com os irmãos Cherif e Said Kouachi na gráfica em que eles se entrincheiraram em Dammartin-en-Goële, perto de Paris, e com Amedy Coulibaly em um mercado kosher no leste da capital francesa. Segundo publicação da Veja, a relação demonstra o poder de fogo dos terroristas: lança-foguetes M82, fuzis Kalashnikov, pistolas russas Tokaref, calibre 9 mm, colete tático com munição e faca, dinamites. E deixa em aberto a questão sobre como os fanáticos puderam reunir esse vasto material bélico.
Embora tenham conquistado uma vitória contra o terror com a morte dos irmãos Kouachi, responsáveis pelo atentado contra o semanário Charlie Hebdo, e de Coulibaly, que fez vários reféns no supermercado, tendo matado quatro deles, as autoridades francesas terão de dar respostas nos próximos dias sobre a ação dos extremistas.
O ataque ao Charlie Hebdo representou uma falha de inteligência, reconhecida pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls, quando 12 pessoas foram mortas. Embora estivessem há tempos no radar dos serviços de combate ao terrorismo, os irmãos Kouachi puderam agir — e contar, no dia seguinte ao atentado, com o apoio de comparsas.
Na noite desta sexta-feira, a Al Qaeda na Península Arábica (AQAP, na sigla em inglês), a célula mais ativa e perigosa da rede terrorista, assumiu a autoria do atentado. Isso é coerente com o que os extremistas disseram à designer Corinne Rey no dia do ataque ao Charlie Hebdo. Também é consistente com o que Cherif Kouachi declarou em entrevista à emissora francesa BFM TV, já dentro da fábrica em Dammartin-en-Goële onde estava entrincheirado: ele afirmou ser leal a Anwar al-Awlaki, americano de origem árabe que fundou a AQAP.
Mas ainda há algumas questões que a inteligência francesa tem de responder: como os terroristas tiveram acesso a armas pesadas? O braço da Al Qaeda no Iêmen de fato financiou a ação de Cherif Kouachi, como ele afirmou à emissora francesa? Os extremistas tiveram contato com mentores dentro da França ou clérigos radicais que possam servir de multiplicadores do fanatismo que levou à tragédia desta semana?
Em declaração na noite de ontem (9), o presidente François Hollande revelou que faz um chamado à vigilância, à união e à mobilização. De fato, a total dimensão da ameaça que pesa sobre a França ainda não foi entendida. É um apelo necessário.