Pela primeira vez, especialistas identificaram uma região de clima árido no Brasil, um dado surpreendente e alarmante que tem uma explicação clara: as mudanças climáticas causadas pelo homem.
O trecho de quase 6 mil km² fica no centro-norte da Bahia e abrange toda a área das cidades de Abaré, Chorrochó e Macururé, além de trechos de Curaçá, Juazeiro e Rodelas, municípios baianos que fazem fronteira com o sertão pernambucano. (Veja no mapa abaixo.)
📝 Contexto: A aridez é a falta crônica de umidade no clima, indicando um desequilíbrio constante entre a oferta e a demanda de água. Ela é permanente e, por isso, difere da seca, período temporário de condições anormalmente secas.
Além desse dado inédito, o estudo feito por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou também que o avanço do semiárido vem ocorrendo num nível acentuado pelo país.
Nos últimos 60 anos, a cada duas décadas, a taxa média de crescimento dessas regiões é de 75 mil km².
E, segundo especialistas ouvidos pelo g1, as consequências dessa expansão são bastantes preocupantes, pois mostram que, se nada for feito, não apenas a disponibilidade hídrica, mas também as atividades agrícolas e pecuárias do nosso país estarão ameaçadas.
Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden e uma das autoras do estudo, explica que a seca é um fenômeno gradual que acumula seus impactos ao longo de um extenso período, persistindo por anos, mesmo após o fim de eventos do tipo.
🚨 Ou seja, a seca, que nada mais é que um termo para uma estiagem prolongada provocada pela deficiência de chuva, deixa uma marca duradoura, com impactos que perduram por muito tempo e que podem ser investigados por pesquisadores.
E foi justamente esse período de análise utilizado na pesquisa do Cemaden e do Inpe.
Para evitar interpretações equivocadas, por exemplo, de um período com uma seca significativa como 2015, que estava com forte influência do El Niño, os pesquisadores analisaram blocos entre os anos de 1960 e 1990, 1970 e 2000, 1980 e 2010 e, finalmente, 1990 e 2020.
Dessa forma, uma compreensão mais precisa das tendências climáticas nestes últimos anos era possível de ser traçada.
Com dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sobre precipitação, temperatura máxima e mínima, radiação solar, velocidade do vento e umidade relativa, foi possível, então, calcular o índice de aridez (IA) de todo o Brasil e desenhar o mapa do começo desta reportagem, referente às décadas de 1990 e 2020.
👉 De forma resumida, dá para dizer que esse índice é um indicador numérico do grau de secura do clima. Quanto menor o número, mais seca é a região. Ou seja, há uma falta crônica de umidade no clima, não apenas uma seca isolada.
Fonte: G1