Deveras acredito que estamos vivendo uma situação ímpar no país em que pela primeira vez vemos um Congresso Nacional quase que totalmente conservador, aonde deputados de vários partidos que saíram vencedores nas últimas eleições não estão muito preocupados com a proposição de um país mais plural e para todos. Enfim em sua grande maioria os deputados estão mesmo preocupados muitos são com seus interesses pessoais e outros defendendo causas de suas respectivas identidades ideológicas e de seus parceiros financiadores de campanhas.
Mais grave ainda é a situação dos indivíduos de ideologia religiosa pentecostal que estão de fato em sua atuação política e parlamentar combatendo o laicismo do Estado brasileiro na prática e nas entrelinhas, como se suas respectivas religiões fossem o espelho e a fotografia do Estado necessário para todos. Isso é grave, e absolutamente perigoso, e precisa ser combatido antes que seja tarde demais. Por enquanto são pouco mais de cinqüenta representantes de ideologias religiosas naquela Casa, em que poucos são aqueles que estão em função de cumprir o papel que cabe a um deputado de fato.
Na configuração brasileira as religiões de natureza pentecostal vêm crescendo assustadoramente em função de diversos fatores que não cabe aqui apresentar, até porque não temos a obrigação de sermos estudiosos desse fenômeno chamado pentecostalismo no Brasil. Mas uma coisa é certa, entre algumas dessas denominadas religiões evangélicas desse novo proselitismo, existem indivíduos que estão provando na prática que são naturalmente fundamentalistas quando se discute questões políticas, sociais e morais, principalmente no parlamento. Por enquanto a chamada bancada evangélica ainda não consegue em seu bojo ser influenciada no todo por indivíduos como esses que vêm formando opinião no país, como se os mesmos fossem os únicos donos da verdade, como um Silas Malafaia, um Magno Malta, um Edir Macedo, ou um Marco Feliciano, para a sorte da nação brasileira.
Evangélicos dessa estirpe têm provocado um debate na sociedade brasileira que desencadeará necessariamente em um de dois caminhos, ou eles ganham o debate e impõem à sociedade brasileira seus valores mais arcaicos, intolerantes, obscurantistas, histéricos, ignorantes e homofóbicos, ou a sociedade ganha o debate e impõe uma pauta em que todos, inclusive eles mesmos, tenham o direito de serem livres na pluralidade e na diversidade que é a sociedade brasileira.
Agora um fato deve ser aqui destacado. Se a maioria dos pastores evangélicos sérios desse país que não concordam com esses falsos pastores e pseudo-doutrinadores, não começarem a tomar posições mais duras para enfrentar na sociedade as opiniões que começam a se levantarem contra os próprios evangélicos, justamente por causa destes, com certeza suas opiniões doentias serão aumentadas ao nível de também aumentar a capacidade eleitoral dos mesmos para num futuro próximo começarem a pautar tanto o Congresso Nacional, como a própria Republica Brasileira, contra o laicismo do Estado.
Já enfrentamos nesse país a situação em que um grupo minoritário nos governou na época da ditadura militar, e isso ficou historicamente provado que não foi bom para a democracia brasileira. Pode até alguém dizer que é exagero fazer tal comparação, mas o uso da força das armas para controlar o poder pode sim ser comparado ao uso errado da palavra bíblica para controlar mentes fracas. Porque sempre vai ser mais perigoso um fanático alienando do que um revólver com apenas seis balas! E nesse caso é necessário mesmo que os bons pastores evangélicos desse país comecem a tomar posição para mostrar à sociedade brasileira que nem todos os evangélicos são fanáticos e nem todos os evangélicos são discípulos dos Silas, dos Maltas e dos Marcos da Vida. É necessário que o primeiro comece!
Genaldo de Melo