Segundo investigações do jornal o Estado de S. Paulo, o atual governo presidencial editou conteúdo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) através de impressão de provas e análises de pessoas externas ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pela elaboração da prova. Ao todo, 13 questões da edição deste ano foram removidas.
Funcionários que pediram exoneração do Inep na semana passada, compartilharam ao Estadão que a próxima edição do Enem, aplicada nos dias 21 e 28 deste mês, sofreu cortes de “questões sensíveis”. Ao todo, 37 pessoas deixaram os postos de trabalho. De acordo com servidores, o presidente do Inep, Danilo Dupas, explicitou que a prova não pode ter perguntas consideradas inadequadas pelo governo.
Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o Enem começa agora a “ter a cara do governo”, declarou no início desta semana, na segunda-feira, 15. O chefe do executivo federal também afirmou que “ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado”.
Em 2018, Jair Bolsonaro criticou uma questão que mencionava um dialeto de pessoas gays e travestis. Ainda no primeiro ano de sua gestão, uma comissão foi criada para avaliar a pertinência do Banco Nacional de Itens do Enem com a “realidade social” do Brasil. Em 2019, o 66 questões foram retiradas pela comissão, que afirmou “polêmica desnecessária” e “leitura direcionada da história” ou ferir “sentimento religioso”, apurou o Estadão.
Hamilton Mourão, vice-presidente, negou ontem, 16, a interferência, com a alegação de que esse era o jeito de o presidente falar. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou o mesmo também na terça-feira, contudo, após afirmar que teve acesso prévio às perguntas.
Com as avaliações externas reportadas pelos funcionários que deixaram o governo, 13 questões foram retiradas da prova deste ano. A prova sofreu então um desequilíbrio na proporção das questões fáceis, médias e difíceis. Mais cedo neste ano, em setembro o Ministério Público Federal recomendou que o Inep desistisse de criar uma portaria para formação de uma comissão permanente de defesa dos argumentos da cúpula do governo federal. O órgão respondeu, afirmando que a recomendação foi respeitada.